Trabalha há 17 anos nos “Cuidados da Infância”
Carla Melo tem formação superior na área das Ciências Políticas, mas trabalha em causas sociais. Diz-se satisfeita com o trabalho que faz, porque, segunda ela, visa “promover a garantia dos direitos universais da criança”, uma tarefa que se afigura árdua, sobretudo numa sociedade como a nossa em que muitas crianças e jovens são provenientes do seio de famílias pobres e desestruturadas
Por: Ilídio Manuel
Edson Fortes (fotos)
O gosto pelo trabalho com as crianças desprotegidas ganhou-o à medida que o tempo foi passando. Corria o ano de 2003 quando Carla Filomena Coelho Alves da Silva Melo ingressou na instituição “Cuidados da Infância”, onde trabalha há 17 anos. “Senti algumas dificuldades no princípio, mas com o tempo passei a gostar do trabalho que fazia junto das crianças e adolescentes” confessa, visivelmente encantada.
Aos 51 anos, casada, mãe de um filho, a activista social lida diariamente com as crianças, adolescentes, de ambos os sexos e estratos sociais.
“Procuramos, dentro das nossas possibilidades, oferecer-lhes um ambiente sócio cultural e económico favorável ao seu crescimento e desenvolvimento psicossomático, harmonioso e sadio”, explica.
Tem uma formação superior na área das Ciências Políticas, mas trabalha em causas sociais. Diz-se satisfeita com o trabalho que faz, porque, segunda ela, visa “promover a garantia dos direitos universais da criança”, uma tarefa que se afigura árdua, sobretudo numa sociedade como a nossa em que muitas crianças e jovens são provenientes do seio de famílias pobres e desestruturadas.
Como uma mãe que tem vários filhos à sua guarda e que diariamente sofrem as agruras de vida, Carla Melo procura mitigar a dor alheia, a falta de bens materiais e, sobretudo, a ausência de afecto e calor humano.
Admite que no começo das suas actividades existia uma falta de informação entre as crianças, adolescentes, jovens e mulheres sobre os seus direitos, mas com o tempo esse vazio foi diminuindo.
“O meu trabalho no dia-a-dia começa com a reunião da equipa, sensibilização dos seus membros, e depois procedo às visitas domiciliares e a formação das famílias” ressalta a activista social, que adiciona: “Temos tido ainda encontros com os parceiros nacionais e internacionais” com vista a “delinear estratégias de actuação”.
Questionada sobre os factores que têm condicionado o normal funcionamento da sua instituição, apontou a “fraca capacidade de resposta na resolução de alguns problemas na comunidade, a falta de apoios financeiros, assim como de transportes”.
Em relação aos apoios que a sua instituição recebe, disse que a mesma tem beneficiado de “alguns financiamentos, cestas básicas e cursos de formação”, mas que têm sido insuficientes para cobrir as necessidades.
Episódios tristes e marcantes
Os mais de 15 anos de convívio com o sofrimento e a dor alheias deixaram marcas indeléveis na memória de Carla Melo, algumas das quais prevalecerão, certamente, para o resto da vida.
A activista social chama a atenção, sobretudo para a situação das crianças que se encontram à mercê dos adultos e que têm sido alvo de abusos devido à sua condição de vulnerabilidade social e psicológica.
Carla Melo já ouviu muitos episódios pungentes e dramáticos contados na primeira pessoa pelas vítimas, algo lhe deixou marcas profundas na alma.
No entanto, há dois episódios que mais lhe marcaram, sendo um deles de uma criança de 8 anos, de mãe alcoólatra, que foi abusada pelo padrasto e por mais dois delinquentes.
O outro caso não menos doloroso foi de uma jovem de 20 anos que se prostituía para alimentar os seus filhos e os próprios progenitores. «Ela acabou por contrair o HIV/SIDA. Conseguimos apoiá-la até onde foi possível mas, infelizmente, ela acabou por morrer», lamenta.
Um dos maiores sonhos de Carla é a redução da pobreza, a inserção de mais crianças no sistema de educação a criação de mais postos de trabalhos e uma maior assistência médica e medicamentosa no país.
O seu maior hobby é o “convívio no seio familiar” e a leitura. “Sou amante de leitura universal”. O último livro que leu foi A Mulher Moderna à Moda Antiga, de Cristiane Cardoso.
Diz que gostou igualmente dos livros Amantes, Concubinas e Esposas, da escritora angolana Encarnação Pimenta, A criança, os 11 Compromissos, Fluxos e Parâmetros, assim como o Atendimento Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência.
A pergunta sobre as pessoas de maior referência em Angola, apontou a empresária Isabel dos Santos que, na sua óptica, “constituiu muitas empresas e empregou muitos jovens”.
No mundo, a activista social nutre uma grande admiração pela Madre Teresa de Calcutá. “Desde muito cedo e ao longo da sua vida, ela dedicou-se à caridade e ajudou a atenuar o sofrimento dos pobres em várias partes do mundo, com destaque para a Índia”, enaltece. “A madre defendia o amor e compaixão entre as pessoas no planeta, daí a minha profunda simpatia por ela”, disse, a finalizar.