Há 16 anos na luta contra o estigma social

Rosa Pedro: Uma activista pela vida

Texto: Ilídio Manuel

Fotos: Edson Fortes

Quando, há 16 anos, decidiu abraçar a causa social em prol das mulheres vivendo com o HIV/SIDA, a ideia foi acolhida com “algum receio” pela sua família devido ao enorme estigma e à discriminação que se vivia na altura.

À época, as pessoas que padeciam da chamada “doença do século” eram vistas com desprezo, quando não hostilizadas, como se elas fossem culpadas pela doença de que padeciam, independentemente das circunstâncias em que tinham sido infectadas.

O amor ao próximo e a dor que sofreu com a perda de uma filha, de um ano de vida, como resultado do HIV/SIDA levaram a católica e activista Rosa Francisco Pedro a ajudar às pessoas que viviam com o vírus.

Primeiro andou pelas igrejas a sensibilizar os crentes para que apoiassem os doentes, depois decidiu-se pelo associativismo, de modo a “ atenuar a dor do próximo, reduzir o estigma, a discriminação social e dar uma esperança de vida às pessoas que viviam e vivem com o vírus”.

Hoje, aos 50 anos, Rosa Francisco Pedro, natural de Luanda, solteira, mãe de dois filhos, é o principal rosto da Associação de Mulheres Vivendo com o VIH/SIDA – Mwenho, criada em 2004.

Estudante do Instituto Superior de Serviços Social onde frequenta o 3.º ano, Rosa revela que a associação que dirige presta igualmente assistência aos homens que vivem com a doença.

Questionada sobre se a discriminação era maior nas mulheres do que nos homens, Rosa não vacila e responde logo de primeira: “Sim, as mulheres sofrem mais porque são elas que mais aparecem à procura de ajuda, ao contrário dos homens que morrem mais por causa da vergonha”, lamenta a activista.

Reconhece que a doença não tem ainda cura, mas ela acredita que é “ possível melhorar a qualidade de vida das pessoas infectadas” e critica a comunidade científica Mundial pelo seu pouco empenho para a descoberta de uma vacina que cure a SIDA, ao contrário dos esforços que têm sido feito em relação à COVID-19”.

Dentre as múltiplas tarefas que a Associação Mwenho presta, destacam-se o aconselhamento e a testagem voluntária das pessoas para detecção do VIH e acesso ao tratamento Anti Recto Viral (ARV).

Segundo a entrevistada, a “Mwenho”, que na língua nacional kimbundu significa Vida, tem dado ainda apoio às mulheres positivas através de “visitas domiciliares para aumentar a adesão à Terapia Antiretroviral (TARV), uma forma de ajudá-las a manter estilos de vida saudáveis”, sublinha.

Releva que a Associação tem promovido palestras sobre o VIH em escolas e hospitais e noutros espaços públicos, procede à distribuição gratuita de preservativos, ensina as pessoas a usá-los, assim como presta apoio alimentar às pessoas vivendo com VIH em situação de extrema venerabilidade.

Em relação aos apoios materiais e financeiros que a Associação presta, Rosa diz que a “Mwenho” tem enfrentado várias dificuldades, para a obtenção de material de apoio aos associados, acesso aos fundos públicos e faltas de instalações próprias para albergar a instituição que dirige.

Destacou, contudo, as ajudas financeiras que recebeu de parceiros e instituições internacionais, tais como a PSI- Population Service Internacional, o projecto ProActivo, da MSH, Embaixada dos EUA, ONUSIDA e do PNUD.

Episódio marcante

Nos seus mais 15 anos a lidar com as pessoas vivendo com HIV/SIDA, conta a história de uma paciente que, após ter o parto na Maternidade Lucrécia Paim (MLP), foi impedida pelas parteiras de amamentar o seu recém-nascido, porque havia o receio de que ela viesse a infectar o seu rebento.

Rosa “Mwenho” diz que, depois de ter sido alertada para o facto, dirigiu-se à MLP a fim de esclarecer que ela parturiente podia dar o leite o seu filho ao peito.

Com alguma satisfação, afirma que a criança vive hoje saudável, porque a mãe cumpriu com as recomendações que lhe tinham sido feitas durante o período de gestação e no parto.

A entrevista, que tem como maior desejo o “desaparecimento da doença em 2030”, revela que nos tempos livres, gosta de cozinhar, fazer bolos doces e salgados, ler e ver novelas televisivas.

Em relação às figuras que mais admira pelo seu contributo na divulgação da nossa música no estrangeiro apontou o cantor Bonga Kwenda.