Agricultores do Bailundo solicitam apoio para impulsionar a agricultura local
A diversificação da economia na província do Huambo pode conhecer dias melhores caso se aposte na agricultura que tem sido levada a cabo no município do Bailundo. Segundo os agricultores locais,há força de vontade e experiência de trabalho, faltando apenas os incentivos da parte do Governo. O administrador Municipal, José Manuel dos Santos,garante que o Governo tem apoiado os agricultores locais
Diniz Kapapelo e Ivone Culeco
A nossa viagem do centro da cidade do Huambo até ao Bailundo foi feita num trajecto onde a maior parte da via está em boas condições, apesar de alguns solavancos nos pontos em que a estrada está esburacada.
50 minutos depois, o verde dos campos agrícolas evidendiava que tínhamos chegado ao destino, o município do Bailundo.
A vasta extensão de campos agrícolas no município do Bailundo, na província planáltica central, mostra que os agricultores, mesmo com parcos recursos não cruzaram os braços para cultivar a terra em busca do sustento das suas famílias e para a tão propalada diversificação da economia que avança, de modo tímido, mas que precisa de muitos incentivos para atingir o seu ponto alto.
Na comuna do Hengue, encontramos o agricultor e comerciante João António Manuel na sua lavra onde, com os seus funcionários, fazia a irrigação dos campos. À conversa com a nossa reportagem, diz que é notória a evolução que se regista nos campos de produção a nível do município do Bailundo, o que foi, segundo ele, impulsionado pela criação de associações de agricultores. “Os camponeses compreenderam que juntos podem fazer mais e melhor, por isso estão organizados em associações ou cooperativas, porque é por essa via que, muitas vezes, recebemos os apoios do governo para desenvolvermos a nossa actividade”, explicou.
Em relação à forma como tem lavrado a terra para tirar maior proveito dela, João António Manuel revelou que os camponeses com poucos recursos têm dificuldade em adquirir material para o trabalho e os que têm mais possibilidades servem-se de outros meios como a junta de bois, também conhecida por charrua e tractores.
“Os tractores facilitam bastante porque quando a pessoa tem um espaço vasto, recorre a alguém que tem um tractor e é ajudado a lavrar a terra. O pagamento é, normalmente, feito com produtos agrícolas”, contou, enquanto olhava para os seus vastos campos lavrados onde despontava o milho, feijão, frutas e a batata.
“Nesta altura, produzimos uma gama variada de produtos, nomeadamente, o milho, feijão, a mandioca, batata-doce, batata-rena e outros produtos hortícolas”, contou visivelmente satisfeito, para depois garantir que só não se faz mais por falta de apoios financeiros.
Outra questão que preocupa os agricultores locais é o acesso ao crédito, embora se vislumbre alguma luz no fundo do túnel. Emília Nalombe, camponesa, revelou que o que tem diminuído o avanço da produção é a questão financeira, uma situação que, segundo a interlocutora, pode ser ultrapassada se forem concedidos créditos agrícolas às cooperativas e aos camponeses. Se isso acontecer, acredito que a produção local vai aumentar”.
Só para se ter uma ideia, na zona onde trabalha, em função da terra estar já saturada o recurso ao uso de adubos é constante para se ter a produção desejada. “Sem adubos, seria uma agricultura de desenrascar”, acrescentou.
“Por exemplo, o que é produzido e temos a oportunidade de colher alguma coisa embora, em menor escala, é apenas o feijão, temos dificuldade de produzir milho porque a terra está muito velha”, acrescentou, alinhando pelo mesmo diapasão de João António, segundo a qual, a falta de dinheiro dificulta a materialização de projectos agrícolas sejam eles pequenos, médios ou grandes.
“Caso as condições financeiras favorecessem, poderíamos comprar adubos e gado para podermos preparar melhor a terra, mas como se pode ver, as condições financeiras não favorecem e nós, os camponeses, temos estado a lutar e a remediar mesmo assim, com aquilo que é possível fazer para não ficarmos parados”, acrescentou a agricultora local.
Emília Nalombe recorda com nostalgia o tempo em que o Ministério da Agricultura, por via dos seus mais variados projectos, procedia à distribuição de inputs agrícolas, como o adubo aos camponeses “mas hoje, como a agricultura também não tem esses produtos para distribuição, mesmo nos armazéns é raro encontrar e, quando há, são apenas 10 sacos que acabam num piscar de olhos, a solução é buscar algumas alternativas para remediar”, frisou, tendo explicado que tèm usado estrume e até mesmo cinza de troncos queimados como as alternativas para melhorar a terra e conseguir, no final da época agrícola, colher alguma coisa.
Mau estado das vias dificulta o escoamento
Se, por um lado, os agricultores reclaman a necessidade de apoio com inputs agrícolas e créditos para os camponeses, por outro, a reabilitação das vias de acesso, para facilitar o escoamento de produtos para os principais centros urbanos é uma necessidade maior.
Só para se ter uma ideia, a família de João António está a cultivar 20 hectares, cuja divisão foi feita para ter diversos produtos agrícolas como a cana-de-açúcar, o milho, a batata-doce e outras hortícolas.
“Embora já existam algumas vias reabilitadas que estão a facilitar o escoamento de produtos, é necessário que a reabilitação das estradas se estenda também para outros pontos e de outra dimensão, incluindo as vias terciárias”, defendeu o agricultor, para depois dizer que apenas os que têm as suas lavras nas estradas principais, nomeadamente, as interprovinciais ou intermunicipais, facilmente podem escoar os seus produtos, já os outros passam por inúmeras dificuldades para enviar os produtos para os mercados de venda e tirar o capital investido pelas famílias, associações ou mesmo cooperativas agrícolas.
Administrador do Bailundo garante:Há incentivo à produção agrícola
Em entrevista a este jornal, o administrador do Bailundo, José Manuel dos Santos (na foto direito), fez uma radiografia sobre os mais variados projectos em curso no município do Bailundo, tendo destacado o Programa de Combate à Pobreza, cujo foco é a melhoria da vida das populações.
Neste sentido, garantiu que a nível do Bailundo, o Executivo tem estado a trabalhar na melhoria do nível de vida das populações em função da disponibilidade financeira, no quadro dos programas aprovados e também do esforço, quer da classe privada, quer daqueles que no quadro da responsabilidade social têm dado o seu melhor para diminuir as dificuldades da população visando o crescimento do município.
Para início de conversa, apresentou os valores disponíveis para a execução dos projectos municipais, tendo informado que para este ano estão aprovados trezentos e quinze milhões, seiscentos e vinte e dois mil e trezentos e sessenta e cinco kwanzas, menos 7% em relação ao orçamento do ano de 2019, explicou.
A aplicação das verbas, conforme fez saber o administrador, segue os 12 eixos que comportam o programa de combate à pobreza,ou seja, “os valores são distribuídos para as três órgãos dependentes da administração municipal, isso é, a própria administração, a educação e a saúde”.
No primeiro semestre deste ano, continuou, das 85 acções programadas, 52 foram realizadas e esses valores foram aplicados nas aquisições, nos programas de cidadania, nos programas de empoderamento da mulher e no apoio à actividade agrícola onde foram enquadrados também ex-militares.
“Nessa altura, nós estamos a implementar um programa integrado na aldeia piloto do Monte Belo onde fizemos a entrega, quer de juntas de bois, quer de inputs agrícolas e também temos estado a trabalhar no apoio social às comunidades no sentido de ir resolvendo os problemas das populações a nível deste sector importante, para se efectivar a diversificação da economia”, garantiu.
Por outro lado, acrescentou José Manuel dos Santos, também têm estado a ser construídas valas de irrigação para permitir que a população possa exercer a actividade agrícola sem muitos sobressaltos e estas acções estão enquadradas no apoio a actividade produtica, visando gerar lucros ou fundos para as famílias.
“Pensamos que o Programa de Combate à Pobreza é o mais regular já que, todos os meses, recebemos o valor alocado, só para se ter uma ideia, desde o ano passado que temos estado a direccionar estes valores para acções ligadas ao combate à pobreza porque anteriormente, como sabem, o programa também era direccionado, quer para a compra de medicamentos, quer para infra-estruturas sociais, tais como escolas e postos de trabalho.
PIIM, uma lufada de ar fresco…
Em relação ao Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), o Admnistrador do Bailundo ressalta que tem, nesta altura, 22 projectos, dos quais 14 já foram enviados para a Direcção Nacional de Investimentos Público. Destas 14 acções, sete são de continuidade e igual número são novas.
“A verdade é que muita gente pergunta-nos às vezes porquê de acções de continuidade no PIIM. Foram acções que herdamos do programa de combate à pobreza porque, a certa altura, este programa deixou de ter a rubrica despesas de capitais, uma rubrica que permitia fazer o pagamento das obras, quer de reabilitação, quer de construção e, sabendo disso, inscrevemos no PIIM e, nesta altura, apenas esse ano é que a Administração Municipal do Bailundo começou a ter desembolsos no quadro do PIIM”.
Ao contrário de alguns governantes avessos às contas, José Manuel dos Santos garante que em Abril receberam os primeiros 10 milhões; no dia 07 de Julho receberam outros valores, que totalizaram 59.240.770,60 Kwanzas.
“Deste valor, constou 25 quilómetros da estrada Bailundo/Lunji, Bailundo/Comuna do Bimbi, duas escolas de sete salas, um posto de saúde, uma residência de técnicos, um sistema de água com painéis solares e também consta a conclusão da reabilitação do posto de saúde da Luvemba, só para exemplificar estes”, detalhou.
Entretanto, o Admnistrador Municipa sublinha que continuam a aguardar para que nos próximos tempos possam receber outras verbas para a conclusão de um posto de saúde, a residência de enfermeiros na Chilemba, no Lunje e o centro de saúde da Luvemba.
De salientar que na comuna da Luvemba, uma escola de sete salas está em construção, uma empreitada que uma empresa está a realizar com recursos financeiros próprios, aguardando que a Direcção Nacional ou as Finanças façam o devido pagamento.