CADA Companhia Angolana de Agricultura, um gigante adormecido

A sete quilometros da Gabela, em direcção ao Sumbe, mais concretamente na comuna da Boa Entrada, desponta a CADA (Companhia Angolana de Agricultura) que, no passado da colonização portuguesa, foi um dos maiores pólos de desenvolvimento agrícola da província do Kwanza Sul. A sua existência remonta aos anos de 1925, tendo sido projectado no âmbito do colonato do Amboim com vista ao fomento agrícola na região.

 Ilídio Manuel e João Faria

O percurso que nos conduz à pequena localidade, que na antiga divisão administrativa colonial era designada por vila, faz-se por uma estrada de terra batida. A “Ford Ranger”, a viatura na qual seguimos viagem, levanta nuvens de poeira, à sua passagem, que tingem de vermelho a exuberante vegetação que ladeia a via estreita.

O nosso cicerone diz que o trajecto antes era asfaltado, mas que o tapete negro fora removido em vésperas das eleições de 2012 para ser totalmente reparado. Afirma que as coisas não correram de feição, como tinha sido projectado, por alegada falta de recursos financeiros. De lá cá para nada foi feito e as promessas não passaram disso mesmo”, lamenta, com alguma tristeza.

A estrada é diariamente percorrida por motorizadas ou a pé pelos camponeses que levam as suas mercadorias para a venda na sede do município do Amboim.

Mulheres e crianças com produtos agrícolas à cabeça caminham em fila indiana em direcção à sede municipal do Amboim aproximando com os seus negócios o campo a cidade.

No passado, a CADA foi uma vila viçosa e potencialmente rica em recursos florestais e agrícolas, com destaque para a produção do café, milho, feijão e banana, alguns desses produtos eram exportados para o estrangeiro.

Reza a história que os elevados índices de produção do café aliados à boa qualidade do produto estiveram na base da construção do caminho-de-ferro do Amboim, cujo ramal ferroviário atingia a localidade de Porto Amboim.

O nó ferroviário, numa distância de 130 Km, nascia na Gabela e morria em Porto Amboim, onde os produtos eram depois transportados por via marítima.

Convém recordar que Angola chegou naquela altura a figurar entre os três maiores produtores mundiais do café, milho, banana, dentre outros produtos agrícolas.

Por força da guerra civil que se abateu sobre o país, o troço ferroviário que era gerido pelo Caminho de ferro de Luanda (CFL), deixou de funcionar em finais da década de 1970.

Quatro décadas depois da saída dos colonos portugueses, as casas, de traça arquitectónica colonial, apresentam sinais de desgaste físico devido ao seu envelhecimento natural e à falta de manutenção.

No alto da colina vislumbram-se as casas antes destinadas aos fazendeiros brancos, e no sopé da montanha, as habitações, mais modestas, onde viviam os trabalhadores rurais negros.

Alguns mais velhos recordam o passado com alguma nostalgia estampada no rosto. Para eles, o pólo agrícola da CADA, no planalto do Amboim, constitui hoje uma sombra de si mesma entregue à sua sorte. Provavelmente, à espera de melhores dias.

 

Corrida rápida para o lucro

Camponeses trocam a produção da cana-de-açúcar pelo café

Na aldeia de Quipaxe, que dista a três quilómetros da CADA, são visíveis os sinais do abate de árvores para a produção de carvão.

Além do corte de árvores, assiste-se nestes últimos anos à devastação dos espaços florestais para, no seu lugar, proceder-se à plantação de cana-de-açúcar.

No entanto, a corrida à produção desta gramínea está a ser feita em detrimento de outras culturas tradicionais como, por exemplo, o café, milho e a banana.

Maria Augusta, a Sekula da aldeia de Quipaxe, confirma que há um incremento na produção da cana-de-açúcar nestes últimos anos, porque, segundo ela, “dá mais lucros e leva menos tempo no cultivo”.

“Hoje, as pessoas querem cultivar mais a cana do que o café”, remata a soba.

Sobre o destino da cana, disse que grande parte da mesma era vendida em Luanda e a outra usada para o fabrico de bebidas alcoólicas.

Filipe Afonso, 58 anos, agricultor, afirma, por sua vez, que tem cultivado o milho, banana e café, mas a sua preferência recai sobre a produção da cana. “Com a venda da cana consigo sustenta-me, assim como a minha família, sem depender de outros produtos”, justifica.

Embora reconheça que a produção desta gramínea tem vindo a contribuir para o empobrecimento acelerado dos solos, ele diz que, em termos económicos, a cana dá-lhes maior lucro do que as outras plantações.

O camponês lamenta, porém, a falta de meios rolantes para o escoamento dos seus produtos agrícolas, assim como de boas estradas que possam facilitar a circulação de pessoas e bens.

Diz que para escoar os produtos do campo tem recorrido ao aluguer de viaturas, mas que os custos de transportação eram caros, e que isso tinha reflexos na venda dos produtos.

Questionado sobre se havia algum impacto do PIIM na localidade, Filipe Afonso referiu que o mesmo não se fazia sentir, à excepção de uma escola que “está em construção na aldeia”.

Segundo ele, os alunos que transitam para a 8.ª classe não têm como estudar na aldeia, pelo que têm sido obrigados a percorrer 3 km a pé até a Boa Entrada (CADA).

Em relação à saúde, a aldeia não dispõe de um centro afim, pelo que os seus habitantes têm sido forçados a recorrer ao hospital da CADA.

Patrício José Maria, 44 anos, vive do carvão, uma actividade que reparte com o cultivo do milho, cana-de-açúcar e da banana.

Diz que encontrou no carvão uma forma de “remediar”  a sua vida e compensar a fraca produção de outros produtos do campo.

Questionado sobre se estava consciente dos danos que a produção de carvão causava ao meio ambiente, respondeu que sim. Mas, minimizou o assunto nestes termos: «No meu caso, abato as árvores no meu terreno, ou seja, na fazenda que o meu pai me deixou. Tenho conhecimento que isto está a estragar o meio ambiente, mas tenho de sustentar a minha mulher e os meus cinco filhos».

“Tenho de aproveitar esta fase, sem chuvas, porque água impede a produção do carvão”, concluiu.