O abate de árvores no Kwanza Sul, mais concretamente nos municípios do Amboim e Quilenda não atingiu ainda as dimensões de outras localidades do país onde se registam elevados índices de desflorestação, mas os sinais começam a preocupar. Pairam receios de que o derrube descontrolado de árvores de grande e médio porte, se não for travado ou controlado, poderá agravar o equilíbrio ecológico e levar, com o tempo, ao empobrecimento de solos e comprometer seriamente a agricultura
Textos: Ilídio Manuel e João Faria
Fotos: João Faria
Rodeada de uma cadeia montanhosa de escarpas esverdeadas, a Gabela, capital do município do Amboim, acorda sob um manto cerrado de nevoeiro, tal como adormeceu na véspera.A neblina matinal cobre o céu e limita a visibilidade. O orvalho cai sobre as frondes das árvores, as gotículas humedecem o asfalto, como se uma chuva miudinha tivesse se abatido sobre o tapete negro.
“Hoje, não conseguimos produzir o café em grandes quantidades por falta de sombras, que antes serviam de protecção”
À distância, algumas lâmpadas acesas desafiam, timidamente, o nevoeiro cerrado. Um frio húmido penetra até aos ossos.
Apesar das condições atmosféricas adversas, os camponeses fazem-se à estrada a caminho de suas lavras, não fosse a Gabela, na província do Kwanza Sul, uma localidadepotencialmente agrícola, cuja actividade principal gravita em torno do cultivo do café, milho, banana, feijão, cana-de-açúcar e distintos produtos hortofrutícolas.
Estamos em finais do mês de Agosto, oficialmente em período de chuvas, mas estas tardam a chegar, o que preocupa os camponeses que já lançaram as suas sementes à terra.
Não menos preocupado está o chefe da secção do Ambiente da Gabela, Rui Carlos Martins Sebastião, que aponta como uma das causas do desequilíbrio do clima a exploração irracional do meio ambiente, sobretudo o crescente abate irracional de árvores para a produção de carvão vegetal e madeira.
“Por esta altura do ano, as chuvas já deveriam cair”, lamenta o interlocutor, para quem o crescimento populacional no município aumentou a pressão sobre o meio ambiente, sobretudo no que concerne ao consumo de carvão.
Segundo ele, nos últimos tempos multiplicou-se também o abate indiscriminado de árvores de grande porte em algumas áreas da província do Kwanza Sul, por via do garimpo que “tem escapado, em certa medida, ao controlo do Instituto de Desenvolvimento Florestal (IDF)”.
Atribui o facto ao diminuto número de trabalhadores do sector, assim como a ausência de meios rolantes que “impedem a vigilância eficiente no terreno”, queixa-se, visivelmente inconformado com a situação.
Questionado sobre em que moldes a madeira tem sido alvo do garimpo e qual tem sido o destino da mesma, Rui Martins Sebastião revela que os camiões dos garimpeiros circulam, normalmente, na calada da noite, para “escapar ao controlo dos fiscais e da polícia”.
“As informações que dispomos apontam no sentido de que a madeira é comercializada no interior do país, sobretudo nas províncias de Luanda e Namibe, mas que não ainda não está a ser exportada”.
Segundo o entrevistado, as madeiras mais procuradas têm sido o mogno e a Moreira usadas na confecção de mobílias.
Consciente da falta de meios para o combate ao garimpo, o entrevistado afirma que o IDF na Gabela tem procurado sensibilizar os habitantes para a necessidade da preservação do meio ambiente.
Segundo Rui Sebastião, a desflorestação tem estado a comprometer a produção do café, já que os cafezais necessitam de muita sombra das árvores para se desenvolverem. “Hoje, não conseguimos produzir o café em grandes quantidades por falta de sombras, que antes serviam de protecção”, sublinha.
Segundo o entrevistado, o abate de árvores, sobretudo nas encostas do morro Inconcon tem igualmente facilitado também a propagação dos fortes ventos que se fazem sentir na região.