E se os jovens disserem ‘não’?

Numa altura em que os ventos das eleições gerais marcados para o próximo ano sopram cada vez mais forte, há todo o interesse em saber como a ‘grande família’ estar-se-á a preparar para os desafios de convencer um eleitorado cada vez mais agastado com o actual quadro social por que passa o país, onde sobressaem um importante segmento juvenil com poucas perspectivas…

José dos Santos

Este é um dossier que não pode passar despercebido aos olhares e às decisões do partido que vai à frente na condução dos destinos da nação: o resgate dos jovens para o interesse na política intramuros.

Este é um importante expediente que não deve ser ignorado, mas, acima de tudo, deve deixar de permanecer somente em papéis e em discursos. Aliás, para uma juventude cada vez mais esclarecida há a clara convicção de que de boas intenções andará certamente o cemitério cheio.

O país político conta com um segmento juvenil praticamente desinteressado, cada vez mais decepcionado com a política e, sobretudo, com os políticos, de tal forma que se mostram desligados de uma e doutra coisa.

Há a crescente constatação entre os jovens angolanos – hoje mais do que ontem – de que a política que se faz até agora é apenas uma tarefa para pessoas mais-velha, pelo simples facto de que há uma geração que não soube transmitir, de facto, os verdadeiros ideais políticos e não ‘desgruda’ da farta mesa que a política tem proporcionado.

Pelo que é dado a ver, os jovens colocam-se cada vez mais distante daquilo que é a política, na maioria dos casos avessos aos partidos. Se não se tiver cuidado, poderemos ter aos poucos uma juventude que parece desistir do país e do seu futuro.

Primeiro, porque acredita que as reformas sociais, um condimento bastante para a melhoria da nação, tarda a chegar, daí que grande parte dela (juventude) se apresenta de ano em ano cada vez mais de costa virada para a política.

À vista desarmada percebe-se completamente que os jovens, este nada desprezível e importante segmento populacional, não tem participado da vida política como seria de esperar.

Tudo porque os políticos, se não tanto, continuam a trata-los com absoluto desrespeito, sem os preparar para o futuro, que pode ser conseguido por meio de uma educação de qualidade, tão pouco estimulando o senso de responsabilidade e de cidadania.

Resultado: com o andar do tempo, os jovens começam a desistir dos políticos e, também, dos partidos, mesmo em se tratando do partido no poder em Angola, aquele que à sua maneira absorve o maior número de jovens.

Aliás, as últimas eleições gerais, realizadas em 2012, servem de barómetro bastante para aquilo que foi a participação jovem. Notou-se claramente que os jovens participam cada vez menos das eleições.

Porquê? Porque aquilo por que se espera após as eleições tem desiludido sobremaneira os jovens. Ou seja, promessas não cumpridas, palavras não honradas, gastos exponenciais longe das principais prioridades juvenis e outras assimetrias contribuem (q.b) para o descrédito dos jovens à política, aos políticos e aos partidos.

Ao relance, fica-se com a ideia que todo o jovem que aparece em actividades políticas morre de amor por um outro partido. Nada disso! Há, na verdade, quem encare a presença em actos políticos ou a filiação em partidos políticos, como é por exemplo o caso do MPLA, como uma importante porta de entrada ao ‘paraíso’ da realização pessoal, um trampolim para a satisfação das suas necessidades.

Mas, no fundo no fundo, por força de um quase abandono a que se vêem cada vez mais votados, aliado ao facto de que os partidos políticos intramuros dificilmente se renovam, assiste-se um baixo interesse e descrença dos jovens pela política institucional, aquela que se faz ao nível dos partidos políticos, um elemento que chega a ser abominável para a cultura cívica que se pretende.

Não se tem preparado a juventude para a democracia cidadã. Não é, por isso, mero acaso que se assiste uma maior e forte participação da juventude nas redes sociais, um escape diante do muito pouco que a fauna política doméstica tem oferecido.

A solução passa pela capacidade dos partidos reinventarem-se, incluindo o MPLA, mais a mais neste período em que o mundo corre a várias velocidades. Entre nós, o descompasso é enorme, até porque a forma de se fazer política continua a mesma, marcado por laivos de clientelismo, subornos, corrupção, açambarcamento, compadrios e outras conveniências…

As instituições, estas, continuam a funcionar de forma lenta, mesmo diante de uma dinâmica que se pretende cada vez mais veloz; daí que se vêem trespassadas pelo comboio do tempo. Cresce exponencialmente o segmento juvenil que hoje não se revê ou não tem preferência por nenhum dos partidos que conformam o actual organigrama político angolano.

Porquê? Porque demora-se a acertar o passo…

O acertar do passo significa, em ano de preparação eleitoral, evitar tomada de medidas impopulares, como as que têm sido tomadas ultimamente, que pode representar uma tentativa de choque directo com aquilo que são as expectativas e necessidades de um grosso populacional que se pretende a ‘crescer mais’ e, sobretudo, a ver melhor distribuída a renda nacional.