À porta do pequeno consultório, no Hospital municipal do Cuango, cerca de duas dezenas de pacientes, na sua maioria mulheres acompanhadas de crianças, aguardam a sua vez para ser atendidas pelo único médico de serviço, ao meio de uma manhã de segunda-feira.
O clínico M´baia Calamba Cele é um dos dois médicos que laboram neste hospital, com uma capacidade instalada de 100 camas, que entrou em funcionamento em 2017. O mesmo foi erguido no âmbito da cooperação chinesa.
É formado em medicina geral há 14 anos e exerce as funções de director do Hospital, há 4.A unidade de saúde, segundo o entrevistado, dispõe de 45 trabalhadores, dentre enfermeiros, técnicos de laboratório, e pessoal administrativo, alguns dos quais em regime de contratação.
De estetoscópio ao ouvido, o médico perscruta a respiração ofegante de uma paciente que se expressa em quioco, uma das línguas da região, da qual o médico é natural.
Depois de algum período de espera, ele atende-nos no seu gabinete de trabalho. À conversa com a nossa equipa de reportagem revela que o hospital presta serviços nas áreas de pediatria, medicina interna, maternidade e cirurgia
Admite, porém, que os serviços de cirurgia estão limitados às pequenas intervenções devido à falta de médicos especializados. “Aqui tratamos apenas de casos simples, sendo que os mais graves têm sido encaminhados para o Hospital de Cafunfo”, uma localidade que dista a 70 Km do Cuango. E adiciona: “O bloco operatório está encerrado por falta um médico cirurgião”.
Questionado sobre os meios de diagnóstico revela que a unidade de saúde dispõe de um laboratório para o despiste das doenças mais comuns como, por exemplo,o paludismo e a febre tifóide. “Temos registado a falta de reagentes para realizar determinado tipo de análises”, adiciona o clínico.
“O aparelho de RX que foi instalado em 2017, aquando da inauguração do hospital nunca funcionou. Felizmente, este assunto poderá ser ultrapassado em breve, visto que na semana passada foi montado um aparelho novo de RX”, diz, visivelmente satisfeito.
“Neste momento, há um técnico que se encontra no Dundo a receber a devida formação para operar com o aparelho”, explica o médico M´baia Cele.
Questionado sobre as manutenções do aparelho e a sua a fonte de alimentação de energia, o entrevistado revelou que a assistência técnica ao RX será assegurada pela empresa fornecedora e que o hospital possui um grupo gerador de grande potência (550 CV) que lhe permite acumular energia.
À pergunta sobre se havia disponibilidade financeira para a compra do gasóleo, já que o Cuango não dispõe de energia eléctrica da rede, respondeu que a verba destinada à compra do combustível “tem dado para aguentar durante o mês todo”.
Diz que o hospital não dispõe de orçamento próprio, mas que recebe 30% das verbas alocadas ao hospital doCafunfo, mas que esta situação, segundo Mbaia Cele, será ultrapassada a partir do próximo ano.
“Está tudo bem encaminhado para que o hospital Cuango possa beneficiar a partir do próximo ano de um orçamento próprio, sem que dependa do hospital do Cafunfo”, adicionou.
Sobre as queixas dos pacientes, segundo as quais o hospital não dispõe de medicamentos, ele diz que do pouco dinheiro recebido 75% das verbas têm sido destinadas à compra de medicamentos. “Temos registado a falta de medicamentos para atender os doentes externos, visto que nossa prioridade recai sobre os doentes internados”.
Malária no topo dos internamentos e mortes
O director do Hospital Geral do Cuango apontou a malária, as doenças diarreicas agudas, as de foro respiratório e a tuberculose como sendo as principais patologias que assolam o município. Segundo ele, a malária é a que mais internamentos e mortes têm causado, sobretudo durante a época chuvosa.
M´baia Cele sublinha que as doenças do foro gástrico intestinal têm sido provocadas pela má qualidade da água que tem sido acarretada do rio Cuango e consumida sem o devido tratamento.
Segundo o médico de medicina geral, nestes últimos tempos registou-se igualmente o aumento dos casos de tuberculose e de infecções de HIV/SIDA. Apontou as difíceis condições de vida da população como a principal causa para o incremento da tuberculose.
Em relação à Covid-19, M´bala Cele diz que o hospital local dispõe de meios de despiste e tratamento da doença. “O Cuango foi o município da Lunda Norte a registar o primeiro caso da Covid-19 que foi tratado com sucesso. No total, tivemos 17 casos positivos, dos quais 15 foram recuperados e dois culminaram, infelizmente, em óbito”, lamenta.
Ainda sobre a Covid deu a conhecer que o hospital tem realizado testes hematológicos e os da zaragatoa rápido. “Caso surjam casos positivos, os mesmos são encaminhados ao hospital do Dundo onde se procedem aos testes do RT-PCR”.
Questionado sobre a existência de meios de biossegurança, o entrevistado refere que a unidade de saúde está minimamente apetrechada com tais equipamentos.
Quanto às razões das filas de atendimento, o clínico admitiu a existência de uma certa pressão dos centros de saúde sobre o hospital por, segundo M´baia Cele, “as pessoas não confiarem nos centros de saúde”, bem como o facto de o Cuango receber pacientes de outras localidades, nomeadamente os municípios de Xá-muteba , Cangula e de outras localidades.