À semelhança do que acontece no bairro Quissueia, os moradores de Cambala Cagando queixam-se também da fuga à responsabilidade social por parte das empresas exploradoras de diamantes.
Os dois bairros têm como denominador comum a falta de energia eléctrica, a ausência de água potável, escolas e centrosde saúde dignosdesses nomes, assim como de estradas.
A indignação aumenta de tom entre os quase três mil habitantes do bairro de Cambala Cagando no que diz respeito às alegadas restrições na circulação de pessoas e bens impostos pelas empresas de segurança.
Os moradores queixam-se dos “excessos” cometidos pela empresa Cabuto que explora os diamantes na zona, e recordam, com satisfação estampada no rosto, os benefícios que antes tinham quando, há uns anos, os diamantes eram extraídos pela empresa SDM, em parceria com a ENDIAMA.
Todos os entrevistados foram unânimes em reconhecer que as coisas pioraram com a chegada da nova empresa, que tem à testa um empresário identificado apenas por Muteba.
“Esta estrada, assim como outras construídas há vários anos foram fechadas por ordens do senhor Muteba, que não deixa a população chegar às suas áreas de cultivo ou circular sem obstáculos”, refere Agostinho Lulu, líder da igreja Bom Deus, em Cambala Cangando.
“No tempo das chuvas, as motorizadas não conseguem circular. Além disso, a travessia do rio custa 500 Kz por cada viagem de canoa”, adiciona.
A revolta contra a nova empresa, que opera há 4 anos, não se limita às restrições na circulação ou na falta do cumprimento da responsabilidade social, mas também numa alegada na ausência de aproveitamento da força de trabalho local, sobretudo de jovens que pretendem laborar na cooperativa de exploração de diamantes, assim como nasde segurança privada. “A empresa do Sr. Muteba prefere empregar jovens de outros municípios e não os nossos, que estão no desemprego. À falta de emprego faz com que muitos deles optem para o garimpo”.
Antoninho Lulu lamenta o facto de o bairro não dispor uma rádio comunitária que, em seu entender, muito ajudaria a sensibilizar as pessoas, mormente na fase de propagação da Covid-19 e do paludismo, que mais mortes causam aos residentes.
Diz que o sinal da Rádio Nacional de Angola é escutado em péssimas condições, uma situação agravada pelo facto de o sinal da Televisão Pública de Angola não chegar ao município devido uma avaria na sua antena.
Pinto Francisco Tchau queixa-se também das péssimas condições das estradas, assim como da faltade água corrente, o que obriga a população a consumir a água imprópria.
O agricultor diz que cultiva cana-de-açúcar, banana e mandioca, mas que a principal dificuldade consiste em escoar os seus produtos para a sede do município devido ao mau estado das vias.
Visivelmente inconformado, Antoninho Lulu recorda que a estrada de acesso ao bairro remonta a 1963 tendo sido construída pela extinta Diamang e que a mesma ligava as localidades do Cafunfo e Luremo. “A estrada que o empresário fechou já existia desde o tempo colonial. A ponte sobre o rio Lulu não foi construída com o dinheiro dele, mas da SDM/ENDIAMA”, rematou.
A nossa reportagem tentououvir o responsável máximo da referida empresa, o que não possível porque, segundo informações obtidas no terreno, estava“ausente do Cuango há mais de um mês”. O máximo que se conseguiu foi ouvir a versão do responsável da área de segurança da empresa Valdias, identificado apenas Augusto, que desmentiu a existência de constrangimentos na circulação de pessoas e bens.
Segundo ele, os camponeses, possuidores de quintas e veículos, incluindo os tractores foram credenciados pela Cooperativa para que possam ter acesso às suas propriedadesagrícolas “sem restrições”. “Tratando-se de uma reserva de diamantes, os nossos efectivos têm feito revistas às mercadorias transportadas pelas motorizadas e carros para saber se os os mesmos transportam produtos do garimpo”.
“Nós não temos problemas com a população, mas com aqueles que transportam produtos do garimpo. Os nossos problemas são os garimpeiros e não com a população”, reforçou.
Desmentiu, por outro lado, que os efectivos no terreno têm procedido à cobrança de valores aos moradores que transportem mercadorias para a comercialização.
Em relação à não inserção de mão-de-obra local, sobretudo de jovens nas empresas de segurança, disse que os recrutamentos eram feitos a partir dos “comandos municipais” da empresa Valdia, na Muxinda.“Nós, aqui, só recebemos os efectivos e não fizemos recrutamento local”, disse, a finalizar.