Quando se fala do Namibe, à memória vêm-nos imagens das dunas de areia, da exótica Welwichia Mirabilis ou do deserto árido que se espraia até ao mar.
Namibe não é apenas deserto, mar e turismo ecológico, mas também um espaço de terras raras e rochas ornamentais, sobretudo granito e mármore.
Ilídio Manuel (textos)
Edson Fortes (fotos)
A Megastone é uma das três empresas do Namibe que se dedica à exploração e transformação de rochas ornamentais, mais concretamente do granito e mármore.
Inaugurada em 2019, esta unidade de produção, que está localizada nos arredores da cidade de Moçâmedes, é a mais recente e, provavelmente, a que melhor equipamento dispõe entre as demais empresas que actuam nesse segmento do mercado.
A fábrica tem uma capacidade instalada de 300 metros quadrados de corte e 120 de polimento de rochas ornamentais, por dia, estando o grosso da sua produção destinada à exportação.
Vera Scheila Baptista Gaspar, gerente da Megastone, diz que a sua empresa não se limita a transformar e comercializar os blocos e chapas, mas também a extraí-las, já que possui uma pedreira de granito própria e outra, em parceria, com um operador do sector.
Segundo a entrevistada do NJ, a empresa tem exportado pedras e chapas para a Europa, e vendido no mercado interno para obras feitas chapas, mesas, bancos e balcões de cozinha.
Segundo Vera Scheila, todas as rochas têm sido integralmente aproveitadas, sendo que as sobras do granito e mármore são usadas na pavimentação dos passeios. “ Aqui, tudo se aproveita”
Numa visita guiada à empresa deu para observar algumas camas feitas de mármore, com cabeceira de granito, assim como bancas de cabeceiras e armários feitos com o mesmo material.
Segundo Vera Scheila, todas as rochas têm sido integralmente aproveitadas, sendo que as sobras do granito e mármore são usadas na pavimentação dos passeios. “ Aqui, tudo se aproveita”, enfatizou.
É caso para dizer que a Lei do célebre químico francês Lavoisier, segundo a qual «na natureza nada se perde, tudo se transforma”, tem sido aplicado à letra na Megastone do Namibe.
Segundo ela, a empresa emprega 47 trabalhadores, dentre os quais três expatriados de nacionalidade portuguesa.
“A nossa empresa tem algumas mulheres a laborar na área técnica, o que não é comum neste ramo de actividade” gaba Vera Sheila, com algum orgulho.
Revelou que a sua empresa tem transformado e vendido as pedras em bruto e as chapas das rochas sobretudo para a Polónia, onde “possui uma filial”. Exporta igualmente para Portugal e Espanha, por via de um parceiro comercial para a Península Ibérica.
Vera Scheila diz que já foi agente comercial na referida empresa sedeada na Polónia, antes de vir para Angola.
Descreveu 2023 como o “pior ano” da Megastone devido a uma série de avarias nos equipamentos que, segundo ela, afectaram negativamente a produção da empresa, reduzindo drasticamente as exportações.
“ Foi um ano bastante difícil, um ano para esquecer em matéria de vendas, visto que registamos avarias nos equipamentos, com destaque para a principal máquina de corte”, recorda, com alguma tristeza.
Segundo a entrevistada, a situação só viria a ser superada com a importação de peças sobressalentes de Portugal.
Apesar das dificuldades registadas, Vera Sheila lembra que a sua empresa honrou com o pagamento dos salários dos seus trabalhadores, alimentação, pagou as suas contribuições à Segurança Social, assim como as suas obrigações tributárias.
Deixando transparecer uma certa esperança, sublinhou que este ano foram registados progressos e que os níveis de produção têm “ estado a subir”.
A gestora empresarial lamentou, porém, a carência no mercado nacional de peças de reposição para os equipamentos, o que tem levado a empresa a importá-los, sobretudo de Portugal. Queixou-se igualmente da falta de energia eléctrica, assim como do mau estado de conservação das estradas.
Diz que a falta de energia da rede e a transportação das pedras em camiões têm aumentado os custos de produção.
“ Quando a energia da rede falha, recorremos aos geradores, mas não conseguimos colocar todas as máquinas em funcionamento devido à alta potência de alguns dos equipamentos”.
Além dos elevados custos com o combustível e a manutenção dos geradores,temos ainda o problema das estradas que originam desgastes de peças e pneus nos nossos meios rolantes”, pontualizou.
Vera Sheila garante que a Megastone “ está de boa saúde financeira” e que as vendas ao estrangeiro, fazem com que a mesma não tenha a necessidade de recorrer ao crédito bancário.
Sobre a responsabilidade social, diz que a empresa tem ajudado dentro do seu alcance. “ Temos ajudado o Governo da Província na promoção do desporto. Construímos um furo de água para os habitantes do Cabongo, no bairro onde está localizada esta fábrica.”
Meios rolantes condicionam à fiscalização da actividade mineira
Entre às dezenas de trabalhadores da empresa de rochas ornamentais desponta Eva dos Santos, uma jovem de 23 anos, natural do Namibe. É uma das poucas mulheres a trabalhar na área técnica, com os equipamentos de ponta.
Formada em engenharia metalúrgica pelo Pólo Universitário do Namibe, Eva está há 8 meses na Megastone, depois de ter feito um estágio de 6 meses.
“ Foi-me dada a oportunidade de fazer o estágio nesta empresa e acabei de ser admitida como efectiva há dois meses”, diz, com alguma alegria estampada no rosto.
A jovem engenheira diz que trabalha na área do polimento de chapas de mármore, uma tarefa que, segundo ela, requere “sempre a observação humana exigente” , não obstante a empresa estar dotada de equipamentos modernos para esse fim.
Confessa que gosta do trabalho que faz, pelo que apela às demais mulheres para que não tenham receio de abraçar o ramo da indústria mineral.
Eva diz que não tem salários em atraso e que as condições de trabalho “são aceitáveis “, mas lamenta a falta de alguns equipamentos como, por exemplo, “ botas adequadas para trabalhar em espaços escorregadios”.
Denilson Lopes, 29 anos, é natural de Luanda, mas foi no Namibe, mais concretamente na Megastone, onde encontrou o seu primeiro emprego.
Diz que veio para o Namibe estudar electricidade industrial, estando a trabalhar na manutenção dos equipamentos na empresa mineira.
Denilson revela que está a crescer do ponto de vista profissional e confessa que pretende no futuro “trabalhar por conta própria”. Apela, por outro lado, que haja mais comunicação entre a entidade patronal e os trabalhadores.
Em relação à exploração dos recursos minerais na província, Carlos Gomes, chefe do Departamento do Ambiente no Namibe, reconhece que tem sido difícil acompanhar e fiscalizar a exploração de inertes por falta de meios rolantes, já que o órgão governamental dispõe apenas de uma viatura.
“Temos apenas um carro, o que tem limitado às acções de fiscalização da actividade mineira em toda a extensão da província”, lamenta.
Por esta razão, justificou não tem sido possível ir ao terreno avaliar em que condições se faz a extracção das rochas ornamentais, se têm sido cumpridos os requisitos exigidos por lei, nomeadamente os planos de recuperação da vegetação e paisagística e de gestão dos resíduos sólidos.
Criticou o facto de algumas empresas terem sido licenciadas a partir de Luanda, o que, segundo ele, tem retirado à autoridade aos órgãos locais, que “deveriam proceder aos estudos de impacto ambiental, antes do início das actividades mineiras”.
Carlos Gomes revelou, por outro lado, que o Departamento do Ambiente tem virado as suas atenções para as questões de educação cívica e promovido a realização de palestras nas escolas e empresas com vista a sensibilizar as pessoas sobre a necessidade da plantação de árvores e na separação dos resíduos sólidos.